‘Bingo’: lições a se tirar com Brasil fora dos pré-indicados ao Oscar
Em 2018, vão se completar 20 anos que o Brasil não crava uma indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar – o último foi Central do Brasil. Todo ano, as comissões que se reúnem para escolher o indicado brasileiro escolhem filmes com a cara do Oscar, seja lá o que isso for. Não tem dado certo. Talvez seja preciso mudar o foco.
Na quinta-feira (14), a Academia divulgou a lista de nove pré-selecionados para o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2018. Dela vão sair, em janeiro, os cinco concorrentes. Tem latino-americano na parada, e é o Chile.
Coincidência ou não, os filmes indicados na categoria estão sempre em sintonia com os grandes festivais europeus. Três foram premiados em Berlim: Corpo e Alma (vencedor do Urso de Ouro), Uma Mulher Fantástica e Felicité. Três, em Cannes: The Square (o vitorioso da Palma de Ouro), Loveless e Em Pedaços. Outros dois foram premiados em Veneza – Foxtrot e The Insult.
The Insult esteve no recente Festival de Cinema do Líbano, em São Paulo. The Wound/Os Iniciados, no Mix Brasil. São todos filmes fortes. Uma transexual em Uma Mulher Fantástica. Um menino criado sem amor em Loveless. Um homem cujo segredo íntimo (a ‘ferida’) é a homossexualidade em Os Iniciados. Uma discussão sobre a arte contemporânea e os limites do politicamente correto em The Square.
Corpo e Alma é sobre um homem e uma mulher que trabalham num matadouro e compartilham o mesmo sonho – um casal de cervos numa floresta. Serão eles? Felicité é sobre a luta de uma cantora para pagar a operação do filho. Em Pedaços é sobre a vingança de uma mulher contra os neonazistas que mataram seu marido e filho. Foxtrot é sobre a dor de um pai militar que perdeu o filho na guerra. E The Insult é sobre o impasse que leva um cristão libanês e um refugiado palestino ao tribunal.
É difícil dizer o que esses filmes têm e o que falta ao brasileiro. O repórter viu a maioria – menos o libanês e o israelense. São intensos, radicais e, em quase todos, o espectador tem empatia pelos personagens. Sofre com eles, torce por eles. Talvez torça contra o diretor do museu de The Square, mas é o ponto do diretor Östlund. Três ou quatro são sobre mulheres fortes, e o empoderamento é o tema da vez. A questão é que é difícil experimentar envolvimento com o palhaço de Bingo, e não porque seja um ‘monstro’, o que basicamente é.
Augusto/Vladimir Brichta vive para o palco. Nem quando vira evangélico consegue mudar – é só outro palco para ‘brilhar’. De novo, a comissão brasileira apostou errado. Talvez, e é só uma sugestão, a passagem dos filmes brasileiros pelos festivais europeus seja um caminho. Central do Brasil havia vencido o Urso de Ouro, e Fernanda Montenegro, indicada para melhor atriz, ganhou o prêmio da categoria em Berlim. Só para lembrar, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, mesmo não tendo sido premiado, fez sensação em Cannes no ano passado.
‘Bingo’: lições a se tirar com Brasil fora dos pré-indicados ao Oscar
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dezembro 29, 2017
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